Em 2025, comemora-se o 110º aniversário do Fokker Eindecker (ou Fokker Tipo E), reconhecido como o primeiro caça da história da aviação. Projetado e construído pela empresa teuto-holandesa Fokker Aviatik GmbH, o modelo marcou o início de uma nova era no combate aéreo. À frente do empreendimento estava Anthony Fokker, inventor e designer visionário que deixou sua marca no desenvolvimento de aeronaves durante a Primeira Guerra Mundial.

Baseado na Alemanha, Fokker foi responsável por criar alguns dos aviões mais emblemáticos do conflito, como o triplano Fokker DR.1 e os caças D.VII e D.VIII, todos celebrados pela inovação e performance. Mas o pontapé inicial dessa linhagem histórica veio com o monoplano de reconhecimento Fokker M.5, construído com uma fuselagem de tubos de aço soldados, asas de madeira e revestimento em compensado e lona, um típico exemplo da chamada “construção mista” dos primórdios da aviação.

A série Eindecker foi uma evolução direta do M.5K/MG, a versão militar do M.5. Seu diferencial estava em um componente revolucionário: o sistema de sincronização da metralhadora. Esse mecanismo mecânico permitia que os disparos fossem feitos através do arco da hélice sem danificá-la algo impensável até então.

Oficialmente colocado em operação no verão de 1915, o Eindecker marcou seu primeiro abate em julho do mesmo ano, pilotado por Kurt Wintgens, que mais tarde se tornaria um ás da aviação alemã. Durante menos de um ano de produção, foram fabricadas 416 unidades em quatro versões principais, empregadas como caças e aeronaves de reconhecimento armado.

A primeira versão, o E.I, vinha equipada com um motor rotativo Oberursel UI de 100 hp, era refrigerado a ar e possuía 7,2 metros de comprimento, 8,85 metros de envergadura, peso de decolagem de 563 kg (sem piloto), velocidade máxima de 130 km/h e alcance próximo dos 200 km. Sua arma principal era uma metralhadora fixa LMG 08 Spandau de 7,92 mm.

As versões seguintes E.II, E.III e E.IV, trouxeram melhorias incrementais no desempenho, buscando manter a superioridade aérea alemã. Embora o Eindecker tenha dominado os céus em boa parte da fase inicial da guerra, acabou superado por novos modelos britânicos e franceses a partir do segundo trimestre de 1916.

Por que o Eindecker foi tão importante

Mesmo sem ser um projeto perfeito, o Fokker Eindecker possuía características únicas que o destacavam diante dos aviões da época. Até então, os chamados “caças” eram adaptações improvisadas de aviões de reconhecimento geralmente biplanos, mais pesados e menos ágeis.

O segredo do sucesso do Eindecker foi o sistema de sincronização da metralhadora. Desenvolvido de forma independente por Franz Schneider (Suíça) e Raymond Saulnier (França), o mecanismo era simples, baseado em engrenagens e correntes, mas extremamente eficaz: evitava disparos errados que poderiam atingir a própria hélice da aeronave. Quando essa tecnologia caiu nas mãos dos alemães em 1915, rapidamente perceberam o potencial estratégico que ela oferecia no domínio aéreo.

Além disso, por ser um monoplano mais leve e aerodinâmico, o Eindecker superava muitos rivais em velocidade, manobrabilidade e poder de fogo, consolidando-se como um pacote eficiente de combate. Isso deu origem ao temido período conhecido como “Flagelo Fokker” a primeira fase de domínio aéreo total registrada na história.

No entanto, o maior legado do Eindecker talvez não esteja apenas em suas vitórias, mas no impacto que teve sobre a doutrina da aviação militar. Foi nas mãos de pilotos como Oswald Boelcke, Max Immelmann e Otto Parschau que nasceram os primeiros princípios do combate aéreo moderno: uso tático da altitude, manobras ofensivas e defensivas, ataques por pontos cegos e estratégias baseadas na velocidade conceitos ainda ensinados às novas gerações de pilotos de caça ao redor do mundo.